quarta-feira, 20 de maio de 2009

para Joana Rafael

enquanto desejo que o novo dia chegue vejo o relógio verde na parede marcar horas inexistentes relógio que marca um tempo que não existe e com isso meu dia ganha dimensões irreais e então retorno ao Forster e retorno ao Mozart e retorno ao Stravinsky vistei Stravinsky em seu túmulo frio em S.Michele perto de Murano pegando um vaporetto em Fondamenta Nuove junto com Phill coleguinha inglês veneziano de cinco dias tento me ocupar com coisas reais hoje tomei café três vezes sem contar de manhã cedo antes de sair de casa três cafés em lugares diferentes sendo que um foi cappucciono sendo que dá quase a mesma coisa visitei amiga em Ipanema e tratei de velhos temas caidos e foi quando disse que águas passadas não movem moinhos falei se tratando de um velho clichê que se faz presente afinal velhos clichês só são velhos clichês porque falam o que de certa forma esta instrínseco depois tomei café com pão lanche em casa de grande amiga em botafogo também tratando de velhos temas a fim de superá-los reafirmá-los e depois em casa de vizinha cumadre tratando de temas futuros de seu casamento preciso pensar no meu terno pois quero estar bonito pra chorar lá em cima do palco sim um palco onde se realiza o ritual em que sempre choro sábado no casamento de outra amiga era o único homem chorando na igreja ora pois ora sim choro sim por que não acabo de me lembrar que preciso colocar os ácidos no rosto remédio receitado controlado preciso lembrar de tirar de manhã senão mancha a pele comi pão com queijo e me queixei no msn com um outro amigo novo amigo que já considero grande precisava ler Koltès para a aula de amanha mas irei ficar na solidão dos campos de algodão amanhã levanto cedo para trabalhar depois tenho aula depois tenho reunião com Koltès depois deve ter cervejinha o que se torna um alívio grande alívio cômico onde reunimos toda a catarse acumulada preciso recuperar o tempo perdido com isso fico sem respirar também quero esperar o grande dia que qualquer Deus irá fazer com que tudo caia por terra e faça descobrir que o meu dia é igual a de qualquer outro e que não há nada de errado com a marcação das minhas horas que tudo na vida é passageiro que pau que nasce torto nunca se direita que água mole em pedra dura no meu caso tanto bate até não fura que a dor é inevitável que o sofrimento é opcional que não adianta esperar nenhum Godot por que ele não existe qualquer Deus que faça perceber que antes tarde do que nunca que antes que o mal cresça corta-lhe a cabeça que a palavra é de prata que o silêncio é de ouro que contra fatos não há argumentos que com o tempo tudo se cura que devagar se vai longe e que ele Deus qualquer escreve certo em linhas tortas

2 comentários:

Rafael R. V. Silva. disse...

eu e joana nomeamos esse tipo de narrativa sem respiração como breathless.

emocionante!chorei quietinho aqui. eu acabo falando por vocês. posso até esconder minhas lágrimas, mas elas estão também nas faces de vocês.

eu que sou calado demais e só abro a boca pra falar besteira e mostrar os dentes. defesa.

bjs.

Anônimo disse...

Jonas, querido,

"tratando de velhos temas a fim de superá-los reafirmá-los e depois em casa de vizinha cumadre tratando de temas futuros"

adoro texto assim, que deixa o inconsciente fluindo (o meu, o seu). Gostei demais desse seu, você ali, misturado, e bem-aventurado o que te percebe, ali, pq é lindo o seu estar no meio de tudo, como parte de tudo, o centro de todo esse passar-de-horas que é a nossa vida, afinal.
tbm, meu amigo, eu também penso em você diariamente; vc faz parte desse meu tudo aqui, eu no meio de tudo, e no meio desse tudo (bem no centro do meu universo confuso) aquelas poucas criaturas que somam os dedos das mãos, e você é uma delas (imprescindível!!!!!!!!!!). Sorte a minha ter conhecido você. Cuida bem de seus olhos cor de contas do céu.
bjs