quinta-feira, 26 de março de 2009

Estava pensando em mudanças. Em revelações. Em iluminações. Joaninha possui asas. Elas são pequenas, como seu corpo, mas batem freneticamente. Joaninha, você consegue voar. E são bichinhos preciosos. Faz tempo que não vejo joaninhas. Me lembro que quando eu era criança eu cuidava de algumas como meus bichinhos de estimação. Ela voava. Parava na minha mão e fazia cosquinha. Durante alguns segundos, no máximo um minuto somente, ela era minha. Joaninha. Elas são raras. Estava hoje pensando em mudanças, em revelações, em iluminções. Um imã em minha geladeira me faz lembrar sempre disso: "tudo está em mudar" (Colette). Não sei que diabos é ou foi Colette, mas sempre detestei essa frase, carregado de um temor infundado, provocado por uma coisa que não sei. Talvez um lance espiritual, sei lá. Mudar sempre veio acompanhado de unhas roídas e desespero latente. Essa frase nunca me convenceu. Mas hoje estava pensando em...nessa tríade que sempre me deixou de cabelos em pé, e, de fato, começo a pensar de forma positiva. Mudar-se, revela-se, iluminar-se. E também, permitir-se. Esse último como uma espécie de D'Artagnan...sim, afinal ele também é um dos mosqueteiros!
Permitir, mudar, revelar, iluminar...
Necessariamente nessa ordem!

quarta-feira, 11 de março de 2009

*Ela:

Quero que você seja como você é. E do jeito que você seja, seja o jeito que eu sou. Seja assim, como você costuma agir. E eu, não serei nada mais além de mim. Serei eu, em toda a minha perfeição e imperfeição, passionalidade e impaciência. Comunhemos isso. Seremos dois em um. Ontem tudo pareceu perdido e eu escrevi isso para você, na esperança de encontrar o que eu não sabia. Me apaixono a cada dia com a possibilidade de me apaixonar novamente. Desse jeito seu, só seu. Da sua voz calma, tranquila. Do seu jeito engraçado de falar com suas maozinhas.De olhar no olho de forma doce e eu perceber seus olhos de azeitona.É isso! Quero que você seja como você é. Sem falsificar nada. Sem esconder nada. Porque no futuro é muito mais estranho descobrir aquilo que ficou oculto, mesmo num sentimento sincero, feliz.
Quero que você venha me buscar e me leve para onde você quiser. Mas agora não dá. Tenho pilhas de trabalho e a noite fica muito tarde pra você. Amanhã você precisa levantar muito cedo. Enfim, paciência. Mas queria te conhecer melhor, e isso aqui tá muito pequeno diante tanta aflição e ansiedade. Mas eu sou assim, não adianta. Irei honrar nosso compromisso. Serei sempre eu, e irei expor todas as minhas mazelas. Juro que deixaria tudo como está. Juro que iria agora, com a roupa do corpo, nem fecharia as portas, nem apagaria as luzes. Iria onde você estivesse, mesmo que fosse preciso atravessar a cidade alagada, mesmo que fosse preciso pegar a ponte aérea. Atravessar pontes, lodos, dunas e areia movediça.

(começa a sair fumaça branca do teto. ela começa a falar tudo mais rápido)

Ficaria aqui te escrevendo toda uma poética, mas nesse caso não é possível te entender, nos entender, através de todo um sentimento normativo. Sei que agora me sinto diferente.Não é uma febre, uma dor de cabeça, ou cãimbra em todas as partes do meu corpo. É tudo isso junto e um monte de coisa que não sei o que é.
Ainda é cedo para amanhã. Prometi te ligar. Quero que o amanhã chegue, tempo. Quero dormir para o amanhã chegar logo. E dormir e sonhar e lembrar e profetizar tudo aquilo que acredito que seja do nosso domínio, do nosso direito. Quero tudo aquilo que esteja em meus sonhos, por mais surrealistas que sejam. Quero ser clichê, melosa, idiota, metida a poeta. Quero ser eu, em todas as minhas instâncias.

(ela adormece. cai a luz)

*(Rafael e/ou Joana)

segunda-feira, 9 de março de 2009

quinta-feira, 5 de março de 2009

Comecei escrevendo que gostaria de recomeçar tudo e corrigir o que foi construído errado. Segundos depois apaguei. E refutei a minha própria idéia. Não. Nada pode ser reparado. Tudo foi como deveria ser. Seguindo a rotação do tempo. Seguindo a translação das horas. Cada ponto. Cada vírgula. Cada exclamação. Foram tantas durante todos esses meses. Aleluia pelas palavras construídas de forma cuidadosa, arrependimento por coisas ditas sem pensar. Quero fazer de cada dia um novo dia. Descobrir uma faceta. Descobrir novos significados, novos sinônimos para essa palavra..amor. E com isso redimensionar a minha crença, que anda descrente no meio desse turbilhão de sentimento.
Vamos falar de: sentido!
Falar do passado.
Falar do que está fadado.
Falar de tantas coisas,
mas que no fundo só faz recordar, reviver.
Falar de coisas que tento esquecer.
Esquecer, sem esquecer...entende?
Esquecer para depois poder lembrar...
é um tanto confuso, mas acredito que você me entende.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Teve dia numa festa que comi azeitona preta pensado que fosse brigadeiro. Morto de fome o garçom não passava na nossa mesa.
Teve dia que fui na padaria. Na volta vi o carro da minha tia. Fui correndo ao encontro de meus primos. O saco rasgou e caiu todo o pão no chão. Não sei porque me mandavam comprar pão naquela padaria, mesmo depois do vizinho ter achado uma meleca de nariz dentro do pão.
Teve dia que eu minha irmã achamos aquele ovinho do kinder ovo no chão. Aquele ovinho que vinha dentro do chocolate com brinquedo. Eramos viciados naquilo. O que a gente tinha achado não era de brinquedo, mas tinha umas coisas ilícitas dentro, coisas que eu e minha irmã não conhecia. Ainda bem que nós eramos crianças, senão iriamos entrar na faca...
Teve dia de praia até ficar preto, torrado, durante todo o verão.
Teve dia de excursão para o jardim zoológico.
Teve dia de patins na rua. Teve dia de bicicleta. Aprendendo.Atropelando velhinhas.
Teve dia de teatro. A Tempestade. Duende, de um ensaio apenas.
Teve dia de ganhar dinheiro fazendo teatro. Chapeuzinho Vermelho.Criança, sem saber nem o que era teatro...
Teve dia de gastar dinheiro fazendo teatro. Gastar bastante dinheiro.Mas teve dia de prêmio.
Teve dia de Papai Noel.
Teve dia de amigo indo embora, assim, indo embora....assim, assim...
Teve dia de decisão...te mala com tudo dentro. De mala com livro, roupa e escova de dente, tudo junto.
Teve dia...tiveram dias...aqueles dias, aquele dia.
Teve dia de pescaria. De pegar peixe e ter nojo de tirar do anzol.
Teve dia de primeira literatura.
Teve dias de filme a tarde, depois do colégio. De Calígula, que era um dos poucos filmes que não haviamos alugado naquela locadora, que só tinha filme dublado.
Teve dia de vento. Vento frio. Pedalar de bicicleta contra o vento, frio. Sinusite.
Também pedalar de bicicleta, no “museu”, em dia de chuva. Pneu careca, deslizante, quase tombar com ônibus.
Teve dia de “pizza da vovó”, marca fajuta. Laranjeiras.
Teve dia do primeiro contato. Conhecimento inicial. Terreno desconhecido.
Teve dia de cinema. Tamanquinhos coloridos com miçangas.
Tiveram dias, de anos. De conhecimento junto, de alegria. De crescimento.
Teve dia de conhecer um monte de gente, mas de uma gente especial.
De rir de tudo junto. De viver tudo juntos.
Tiveram dias de bons meses. Felizes
Tiveram dias de tempestade, mas sempre de calmaria. De profunda calmaria.
Teve dia de dar sustos vendo filme de terror.
Teve dia de fumar na janela vendo a lua.
Teve dia de identificar a lua minguante da crescente. De parar para perceber em meio a tanta correria.
Teve dia de acordar cedo e tomar café no Parque Lage. De descobrir, somente ao chegar, que estava fechado.
Teve dia de cinema. Muito cinema.
Teve dia de vacina, de segurar a mão pois detesta agulha.
Teve dia dos melhores capuccinos, com biscoito de chocolate.
Tiveram dias de espera. Esperar acordar e dizer que ama. Esperar chegar a noite e também dizer que ama...tiveram dias de apenas dizer que o amor, afinal, até o final, era reciproco.
Teve dia de conhecer a família. De fazer planos e de viver dos planos.
Teve dia de recordar do passado juntos. Do passado recente que mais parecia anos e anos.
Teve dia de passar todos os dias juntos.
Teve dia do saco de sal acabar.
Tiveram dias perdidos.
Terá dias por achar!
procura-se.
atrizes
de não sei quantos até caralhadas de anos
para o papel
principal
do monólogo
de uma atriz só:
A cantora antropomórfica