sábado, 17 de janeiro de 2009

Como aquele grito que se fez ouvir a milhares de quilometros. Milhares de anos luz. Milhares de bairros, e distritos, e cidades e estados...gritos de felicidade, gritos de socorro. Não se faz ouvir. Grita palavras desconexas, grite palavrões feios e bem cabeludos. Grita poesia, grita em outras línguas, em outros dialetos, em linguagem extraterrestre. Mas é como pedra que joga para o alto. É como manteiga que derrete em temperatura ambiente, mas que endurece quando coloca na geladeira. Fica inutilizável a manteiga dentro e fora da geladeira, é difícil encontar um meio termo, ainda mais no Rio de Janeiro, em pleno fevereiro..sem o intuito de descobrir nenhuma rima. Grita alto, grita mais alto. Milhares de quilometros são como muros de Berlim...grite para quebrar os copos, as janelas, os vidros dos carros...como aqueles cantores de ópera que possuem agudos infernais capazes de estourar timpanos. Grite e reze e comungue e dê aleluia ao que não foi executado pelo ser invisível pelo qual pedes tudo quando se encontra em momentos de profunda solidão. Ser invisível, abstrato, que é atenção de tanta coisa também abstrata que rogamos, que solicitamos com a maior fé e que depois é diluida com as decepções.Grite, grite mais alto, até esgarçar as cordas vocais, até sair um grito seco, calado, um resquício de grito, um grito fino que vai acabando, que vai sumindo...mas grite. Quem irá ouvir, atender, fazer o pedido pelo seu grito? Grite para tudo, mesmo que para o inomimável... Seu grito irá percorrer por fios, de uma extremidade a outra da Terra, dessa imensa terra cercada percorrida por muitos outros gritos. È com extrema alegria que meu grito ainda sai de minha garganta rouca. Quem sou eu? Me pergunta de volta um grito vindo de longe, tão longe que só chegou agora, mil e oitocentos dias depois: quem sou eu? Tudo que vejo, toco, ouço, sinto o gosto e, principalmente, tudo aquilo que é captado pelo meu olfato... Sim, sou capaz de voltar ao tempo, sou capaz de voltar em outras encarnações. Cheiro de felicidade que toma conta dos dias. Cheiro de pão da padaria, cheiro de chuva no asfalto quente, cheiro de maresia que entra pela janela. E com isso escuto muitos gritos, de minha pessoa em outras vidas. De padre e freira, de moça virgem e poeta, de revolucionário e anarquista. E eu continuo gritando, para derrubar todos os muros de Berlim, para derrubar todas as muralhas da China, para , no futuro, eu ouvir a minha voz que ainda não está moldada, nem em vagabundo, em nada, ainda.

3 comentários:

Rafael R. V. Silva. disse...

CARALHO!!!
!que bonito!

...GGGGGGRRRRRRRIIIIITTTTTAAAAARRRRRR...

Joana Rabelo disse...

Lindo!

Anônimo disse...

muito bonito, Jonas. Adorei. Depois de ver "O milagre de Benjamim Button", ler esse monte de coisas suas hoje, tá sendo phoda, mas tá bom, nada é por acaso, e tudo faz parte de um ciclo. Repensando, repensando... só tá difícil segurar a lágriminha do canto do olho, insistente. bjs, e obrigada!
Cynthia