Ele saiu para comprar pão e deixar todas as expectativas de lado. Sabia o que ia acontecer dali pra frente.Era cedo e ainda não tinha gente na avenida. Preferiu esperar mesmo assim o sinal abrir, para ir naquela padaria longe de casa. E olhava atentamente os azulejos diferentes nas paredes, e pensou em mitologia, em religião, em geometria. E tentava ler de longe a propaganda nova daquela cerveja, adivinhar o número dos ônibus que viravam a esquina, os relógios de rua que marcavam horas diferentes, como se para cada metro existisse um novo fuso horário. Caminhava atentamente com medo de pisar nas formigas que já acordavam dispostas. Já conseguia sentir o cheiro de pão, cheiro de fumaça, e o cheiro de naftalina que vinha do seu corpo. Como se estivesse guardado...e guardado deixaria as suas expectativas. Preferia muita coisa, ao mesmo tempo que não priorizava nada. Pensava que um monte de coisa ia dar certo, mas sempre vinha uma onda...E estava atrás de maré mansa. Sabia o que ia acontecer dali pra frente, mas preferia ignorar...a fim de lidar toda hora com o desconhecido. E iria chorar olhando para o espelho, percebendo os seus olhos ainda mais verdes.E iria pensar em toda a injustiça do mundo. Mas ele tinha um objetivo, e com isso um passo de cada vez. Primeiro o desjejum.