Desesperadamente era tomado por uma certeza que aniquilaria todas as suas outras. E pensava no que desejaria com aquilo tudo, o que iria fazer com aqueles bolsos cheios de surpresa. Deixava o vento entrar pela janelinha da cozinha.Deixava o vento sair por todas as outras janelas. Andava descalço pela casa, mesmo sentindo nervoso por sentir as poeiras e o quanto de imundice outros pés trazem da rua. Desesperadamente. Um desespero afetuoso. Um quase destempero. Ia deixando agir pelo seu corpo, sentindo os sintomas, todos os seus efeitos colaterais. E misturava as roupas escuras e as coloridas na máquina de lavar para ver o que ia dar. Detestava mudanças, mas estava começando a gostar. A gostar não. Pensando na possibilidade disso. Deixava o vento da janelinha da cozinha trazer os cheiros dos outros apartamentos. Trazer o piano do andar de cima, trazer as vozes daquelas velhas que sempre brigavam decidindo sobre o que a criança deveria usar. Trazer a sofreguidão do rapaz que sonha que seu time não vai cair para a segunda divisão. Deixar aquele ventinho da janela da cozinha trazer todas as didascálias daquela rotina, enquanto que desesperadamente era tomado por uma certeza que aniquilaria todas as suas outras.