sábado, 24 de outubro de 2009

Tudo em minha volta está recheado de lembranças. Desde do buraco imperfeito da parede para pendurar as cortinas, desde a arrumação dos móveis. Totalmente tomado, impregnado. Tudo em minha volta tem uma marca. Cúmplice e ao mesmo tempo atordoada. A cor das paredes, a disposição dos livros, das tralhas no quartinho de tralhas.Difícil imaginar tudo diferente, difícil imaginar as coisas como são de outro jeito. Difícil imaginar uma janela que não retratará o mesmo quadro que vejo agora, perspectivado. Difícil imaginar os cheiros que continuarão no ambiente, difícil imaginar as manias que serão as mesmas, mas que serão diferentes.Tudo isso por uma outra ótica, pelo lado oposto do quadro. De dentro do quadro, do outro mundo, vendo esse mundo, por sua vez, totalmente perspectivado. Difícil, mas tudo é difícil. E tem que ser difícil, árduo. O importante é viver os dias, as horas e os segundos. O importante é ter vivido toda essa marcação do tempo sem ligar para o tempo. A sucessão de fatos que marcam, que deixam na pele essas lembranças, que ficam do lado de cá da janela e que são lembradas com muito carinho e alegria. Fazer da vida um mar azul de água quente, que recebe e conforta e não que congela e repele. Mar azul de água quente que será por toda a vida quente, que apresenta algumas ressurgências, algumas correntes de água fria, mas logo depois esquenta de novo, trazendo paz e tranquilidade. Quando esfriar não é muito pedir um barquinho para fugir das águas-vivas que vem com a correnteza.
Tudo em nossa vida é recheado de lembraças e só a gente sabe disso, mais ninguém. Ninguém reconhece a importância do mínimo que é um montão na nossa vida. Se não tiver uma janelona grande, assim, assim... a gente improvisa com o buraco da fechadura,que seja, mas é preciso olhar o quadro do outro lado. Seja uma pintura impressionista, ganhando distância para ter noção do todo, seja um quadro pequeno, enclausurado dentro de uma redoma de vidro, protegido, mas recheado de passado. Dificil imaginar muita coisa, mas imaginamos. E quanta vida ainda, que é enriquecida com história e fantasia e dia-a-dia e muito mar quente de água clara, transparente, vendo o pé na areia e peixinhos nadando em companhia.
As horas não passam para as pessoas felizes. Que cruel ironia. Lástima. Felicidade é algo como conquista. Os ponteiros parecem entrar em greve. Zoam de mim, brincam na minha cara. Parece que quanto mais quero, mais eu afasto qualquer possibilidade. Queria ser indiferente. Se sou, tenho certeza que me cobraria mais paixão e não aceitaria isso. Me conheço e por isso tenho mais medo. Felicidade rima com ansiedade e isso não é nada bom. Quero viver o momento. O aqui,o agora é essencial. O devir, o corpo, o espírito. E olha que estou feliz, mas fico pensando na frente, até quando a felicidade irá durar. Durará sim, farei promessa.Três voltas no quarteirão sem pisar nas linhas, aceitar aqueles papéis de propaganda que distribuem na rua durante uma semana(seja os de tarot ou seja aqueles planos de saúde perguntando se você já viu homem grávido) e não brigar com o trocador do ônibus, que nunca tem troco.
Sim, sim.
Farei. Promessa