sábado, 27 de setembro de 2008

É importante prestar muita atenção em tudo...(apaga, não está bom). Você precisa de alguma coisa. Não sei o que é, menino. Acho que é vida. Isso. Vai, vai. Vai correr o quarteirão, vá ver se encontra alguma coisa. De lá vai para um outro bairro, mas cuidado. Olhe sempre para os dois lados, pode ter sempre uma bicicleta na contramão, mas não tenha medo. Se você for com cuidado, com responsabilidade...
Isso. Você precisa correr em busca de todo o tempo perdido. Você é forte, novo, não tem filhos, é cheio de saúde, nada te prende aqui - mesmo você querendo que prenda - nada. Mas, veja bem, me mande sempre notícias, me diga como vai indo a sua pseudo-aventura. Tome, leve esses sapatos confortáveis para você não precisar ficar parando sempre. Tome, leve essa máquina fotográfica, leve essas canetas e uma boa quantidade de papel e tome nota de tudo,registre tude, até para prestar contas consigo mesmo. Tente lembrar de todos os cheiros, eles sempre irão te levar de volta para o lugar em que você esteve, mesmo que você não saiba o caminho de volta.
É importante prestar muita atenção.
Ah, e seja você. Não tente se esconder de ninguém. Vai, corre.E observe, anote, fotografe, sinta os aromas do tempo, sinta o seu pé na areia estranha e volte correndo e me conte tudo o que aconteceu, depois de tantos anos, depois desse intensivo de vida.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Se preocupar com coisas essenciais!
- O que fazer para comer na semana que vem?
Que falta de criatividade.
- Massa. Um clássico. Um enredo sempre reeditado. Molho branco, de tomate, pesto...

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Enfim...sol. Depois de tanto tempo frio e chuva. Cama desfeita e roupa suja. Siso e promessas de extração. Leitura acumulada e muito filme em dvd. Grito de E.Ts na escola ao lado. Receio que no fundo aquilo não seja uma escola. São crianças abduzidas em campo de concentração. Elas gritam. Acordo antes das oito. Sei que horas são. Elas não estão gritando. Elas ainda não estão lá. Acordo as dez da manhã. Já é tarde. Gabriel grita. Eles estão lá. Serezinhos verdes.Enfim..sol. Coloco dois despertadores para me acordar. Se um falhar o outro funciona. Sim. Tenho T.O.C. Um despertador me acorda as oito, enquanto o outro ainda marca sete e cinquenta e seis. Quatro minutos de sono, de sonho. É preciso levantar...água na cafeteira. Não tem pão. Ovos, mexidos. Abro a janela..enfim..sol.Tudo muito comportado em Auschwitz. Ainda. Ainda é cedo. Estão conjugando o verbo, ainda. Numa língua que eles pensam que me enganam. Gabriel, gabriel...senta. copia.pára.sossega.escreve. Tanto verbo, coitado. Gabriel, Gabriel...em todos os tempos...e ele lista os seus verbos do dia-a-dia, no infinitivo...correr, andar, caminhar, falar, gritar, pentelhar - eu pentelho, tu pentelhas, ele pentelha. Sim. É um verbo. Pelo menos para Gabriel - azucrinar, mexer, escrever, desenhar...um infinito de infinitivos. Café tá pronto. O ovo já tá mexido. Banho. Roupa. Mochila. Ônibus.Trabalho.Faculdade.Casa.

sábado, 13 de setembro de 2008

personagem: ela.
Cantora antropomórfica

É preciso estabelecer as coisas. Desde que recebi aquela notícia, resolvi que não era comigo. Que nada me atingia, que o problema não era meu. Enfim. Ignoro isso tudo. Sim, ignoro. Nunca tive tanta satisfação em dizer isso. I, g, n, oro...saboreando bem essa palavra. Sendo bem malévola. I, g, n, oro tudo o que aconteceu no passado. Tudo que aconteceu entre a gente nunca existiu. O problema é que não consigo sustentar esse personagem. E sim...eu não ignoro. Sou uma farsa. Eu, mim, tu, quem, onde...um montão de pronome oblíquo, relativo, indefinido...Quis dizer muita coisa, mas tudo se perdeu. Sim. O problema não é meu. Caderninho preto. Escrevo tudo o que um dia posso esquecer, e isso eu não quero! Sim, sim. Façamos promessa!
Entenda o que quiser. Faça macumba, ignore todos os pedidos de reconciliação e não de desculpas - veja bem - afinal, você não está certo em porra nenhuma. E nem digo que eu estou certa. Não digo nada, para falar a verdade. Nada. Mas foi você que me expulsou da sua casa e disse que não queria mais me ver.
No fim você é que está certo e eu errada! Seguindo a lógica natural das coisas, quando um não quer, dois não brigam.